Durante muito tempo, o sucesso de uma empresa, país ou indivíduo era medido exclusivamente pelo resultado financeiro. Empresas bem-sucedidas eram aquelas que proporcionavam enormes lucros aos seus acionistas, e a pessoa que “venceu na vida” era aquela que conseguiu comprar uma casa na praia, um carro de luxo e se aposentar confortavelmente.
No entanto, o mundo mudou, e o conceito de sucesso passou a ser avaliado de diversas formas. A busca pelo lucro a qualquer custo, sem considerar os impactos econômicos, ambientais, sociais e emocionais, deixou de ser valorizada e, pelo contrário, passou a ser rejeitada.
Essa transformação reflete um anseio da sociedade por mais transparência nas atividades das empresas, pela busca de negócios e produtos mais humanizados e que visem o bem-estar geral. Parte desse movimento consiste em uma reparação histórica de diversas injustiças cometidas contra minorias, povos e raças. É uma exigência de igualdade e bem comum, da qual a sociedade não quer mais abrir mão.
ESG: um novo paradigma de sucesso
Nesse contexto, o conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) emergiu como um novo paradigma para medir o sucesso de empresas e instituições. ESG representa um conjunto de critérios que avaliam o impacto ambiental, social e de governança corporativa das empresas. Esses critérios são cada vez mais valorizados por investidores, consumidores e colaboradores.
O critério ambiental avalia como uma empresa gerencia seus impactos no meio ambiente. Isso inclui práticas de sustentabilidade, uso eficiente de recursos naturais, redução de emissões de carbono e gestão de resíduos. Empresas que adotam práticas ambientais responsáveis não apenas contribuem para a preservação do planeta, mas também ganham a confiança de consumidores e investidores conscientes.
O critério social examina como uma empresa trata seus colaboradores, clientes e a comunidade em geral. Isso envolve políticas de diversidade e inclusão, condições de trabalho justas, respeito aos direitos humanos e contribuição para o desenvolvimento social. Empresas que se destacam nesse aspecto tendem a atrair e reter talentos, além de construir uma reputação positiva no mercado.
O critério de governança avalia a estrutura de liderança e os processos de tomada de decisão dentro da empresa. Isso inclui transparência, ética nos negócios, combate à corrupção e responsabilidade corporativa. Uma boa governança é essencial para garantir a sustentabilidade a longo prazo e a confiança dos stakeholders
Impacto nas Relações de Trabalho e Consumo
Essa mudança afeta diretamente a relação entre colaboradores, empresas e seus clientes. Profissionais optam por trabalhar em empresas com propósitos bem estabelecidos e ambientes de trabalho mais agradáveis, mesmo que o salário não seja o maior do mercado. Clientes também estão dispostos a pagar mais ou trocar imediatamente de produto por algo mais íntegro e justo.
Por outro lado, o mercado financeiro sempre foi um dos grandes vilões da velha busca pelo “lucro a qualquer preço”, utilizando meios perversos, antiéticos e imorais. Podemos dizer que algo melhorou nos últimos anos com o surgimento de novos bancos digitais, que competem com melhores taxas para os clientes, e, mais recentemente, com o Open Finance, que tende a dar ainda mais visibilidade às incongruências e injustiças das instituições financeiras.
A situação econômica do brasileiro
Não é segredo que o brasileiro enfrenta dificuldades em gerir suas finanças pessoais. Uma pesquisa realizada pelo Banco Mundial em 2017 posicionou o Brasil em 101º lugar entre 144 países no nível de poupança da população, ficando atrás de países como Filipinas, Bolívia e Mali. Em 2014, o Brasil estava em último lugar na América Latina, atrás até do Haiti. Além disso, segundo pesquisa da FGV e de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2019 o Brasil ocupou o 16º lugar entre as piores economias em termos de taxa de investimentos em proporção ao PIB, em um total de 170 países.
Mas como ficam os bancos e instituições financeiras do Brasil nesse contexto? Segundo a Economática, em um levantamento realizado em 2019 que comparou o retorno sobre o patrimônio (ROE) de bancos com mais de US$ 100 bilhões, os quatro primeiros lugares foram ocupados por bancos brasileiros.
Isso é um claro e óbvio exemplo de lucro a qualquer preço. Em uma população afundada em dívidas, com dezenas de milhões de miseráveis, os bancos brasileiros são os mais lucrativos do mundo. Eles não têm lucrado com o bem-estar e sucesso de seus clientes, mas sim com o crescimento e aumento das dívidas, cada vez mais impagáveis e longevas.
A necessidade de mudança
Essa situação evidencia a lamentável condição econômica da população brasileira. Ainda que sejamos um povo otimista, o brasileiro está cansado de lutar para não ser trapaceado. Vivendo uma vida mediana para suprir sua inabilidade financeira, muitos são explorados por agentes do mercado que lucram com essa situação. Isso retira a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias, reduzindo sonhos a meros pagamentos de contas e dívidas.
É evidente que boa parte desse lucro e crescimento ocorre às custas da incapacidade do brasileiro em gerir e tomar boas decisões financeiras, resultando em dívidas, financiamentos, taxas e produtos de baixa qualidade e abusivos.
A única maneira de reverter ou minimizar esse imenso impacto é oferecer alternativas, tecnologia, produtos e serviços mais honestos que realmente visem transformar e melhorar a vida das pessoas através do dinheiro.
Existe um caminho para que bancos e instituições tradicionais contribuam mais para o bem-estar do brasileiro e ainda obtenham lucro: basta se importar mais com as pessoas do outro lado da mesa. Adotar práticas de ESG pode ser um passo crucial nessa direção, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e justo para todos.