Eficácia vs. Perfeição

Quando falamos de finanças pessoais, é essencial distinguir entre o que é importante para o planejador financeiro e o que é eficaz para o cliente. Muitas vezes, o excesso de detalhes ou zelo pode tornar o processo mais custoso, complexo e entediante para os clientes.
Partimos do pressuposto de que o cliente que busca e contrata um planejador financeiro não possui tempo, conhecimento ou ambos para gerir suas finanças pessoais. Normalmente, o objetivo desses clientes é alcançar uma vida financeira mais tranquila, equilibrada e organizada.
Fui planejador financeiro por mais de 10 anos e já perdi diversos clientes devido ao excesso de cuidado e detalhe. Às vezes, o que pode parecer importante para o planejador não tem a mesma importância para o cliente e nem afeta o resultado. Detalhar cada plano, custo e garantir que cada centavo esteja corretamente alocado não é, necessariamente, o papel do planejador financeiro, pois isso pode trazer mais estresse e principalmente alcançar um resultado ruim e desmotivar o cliente.
Exemplos Práticos
Excesso de Categorias no Orçamento
Ao criar categorias demais, as dúvidas surgem. Como, por exemplo, diferenciações excessivas entre despesas de alimentação: trabalho, pessoal ou familiar. Embora tal diferenciação possa parecer importante, ela frequentemente gera confusão desnecessária. “Ah, mas é importante diferenciar para entender exatamente onde o cliente gasta mais”. Sim, sem dúvida, mas se a refeição é individual, se foi durante o trabalho, ou se era dia de semana, mas não foi no trabalho, etc… gera um nível de detalhe inútil.
O principal neste ponto é orientar o cliente sobre o impacto financeiro das refeições fora de casa em comparação com gastos no mercado.
Controle de Fluxo de Caixa na Fatura do Cartão
Este é um ponto polêmico!
A única forma de analisar o resultado de uma família (ou empresa) é através do fluxo de competência. Ou seja, à medida que vou realizando despesas ou receitas, sejam elas pelo cartão de crédito, no PIX, ou dinheiro, este fluxo é contabilizado no dia que é realizado o pagamento. Essa abordagem ajuda a entender se a família gastou mais do que o estimado e quais são os maiores gastos. No entanto, o fluxo de caixa nos permite entender se a família PAGOU x ou y no mês.
O fluxo de caixa é muito importante para empresas, principalmente aquelas que pagam e recebem muito dinheiro no médio e longo prazo, o que é bastante comum. Levando em consideração altos valores isso é algo que deve ser analisado e acompanhado de muito perto para não ter um descasamento de contas e até mesmo quebrar a empresa.
Mas, pensando em famílias, isso gera mais estresse, do que contribui para o objetivo ter melhor qualidade de vida a partir do dinheiro.
Exemplo: imagine uma família que ganha R$ 20.000 mensais e tem gastos que variam entre R$ 15.000 e R$ 25.000. Em meses com gastos de R$ 15.000, tudo fica bem, enquanto em meses com despesas de R$ 25.000 pode ocorrer um problema no fluxo de caixa.
A solução mais eficaz seria construir uma “reserva de caixa” que cubra os picos de gastos, evitando preocupações com saldo negativo. Ou seja, manter na conta corrente o equivalente a 25 ou 30mil, para que aqueles meses de maiores gastos, não tenha nenhuma preocupação de “faltar dinheiro” e nos meses que os gastos forem menores, basta recompor este caixa.
Certamente o custo de manter este valor em conta corrente é muito menor do que se preocupar com o detalhe e preocupação da falta de dinheiro.
CONCLUSÃO
O principal papel do planejador é proporcionar liberdade financeira e qualidade de vida. Foque no que realmente importa e evite concentrar-se em detalhes micro, pois isso pode tornar o processo mais complexo e desmotivante para o cliente.